A Educação na Idade Média
A busca da Sabedoria como
caminho para a Felicidade: al-Farabi e Ramon Llull
Ricardo da COSTA
In: Dimensões - Revista de História da UFES 15.
Dossiê História, Educação e Cidadania.
Vitória: EDUFES, 2003, p. 99-115
(ISSN 1517-2120).
Resumo: O artigo analisa o tema da
educação medieval sob o prisma de seus contemporâneos. Foram selecionados dois
filósofos – al-Farabi e Ramon Llull – que, em seus escritos, trataram da
Educação como um instrumento básico do homem para se chegar ao conhecimento, e
daí, à felicidade, bem supremo a ser alcançado.
Abstract: This article analyses the theme of medieval education
by the view of his contemporaries. We have selected two philosophers –
al-Farabi and Ramon Llull – witch in their writings dealt with Education as a
human basic instrument to achieve the knowledgement, and from here to
happiness, supreme good to be achieve.
Palavras-chave: Educação medieval – Sabedoria
– Felicidade.
Keywords: Medieval Education – Wisdom – Happiness.
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Os medievais refletiram muito a respeito da Felicidade,
do Bem, do Belo, da Verdade, enfim, todas
as categorias supremas pelas quais a vida humana aspira. Na Idade Média,
a Educação era vista como um instrumento para se alcançar
a Sabedoria, que conseqüentemente, levaria o homem à Felicidade,
um bem desejado por si mesmo e mais perfeito que todos os outros bens
(al-Farabi, 2002: 43-44).
Nossa proposta nesse artigo é demonstrar e
compreender como os medievais pensaram a Educação: como o estudo
adequado, isto é com disciplina, método e, principalmente, amor à sabedoria,
levaria os jovens estudantes à Sapiência. Para isso, selecionamos
dois filósofos medievais: al-Farabi (c. 870-950) e Ramon Llull (1232-1316).
Dois homens separados no tempo, por suas religiões, por suas culturas, mas
unidos pela cosmovisão e pedagogia medievais. Portanto, dois intelectuais no
sentido pleno e perfeito da palavra - e não no sentido gramsciano, conceito
inteiramente anacrônico para o período medieval e equivocadamente desenvolvido
por Jacques Le Goff em seu Intelectuais na Idade Média (De
Libera, 1999).
Esses dois medievais personificam maravilhosamente
um tempo que buscou a ciência como um fim nobre em si, e não
visando um objetivo específico que, no fim das contas – como vimos ao longo da
História – muitas vezes passou a ser mais importante que o próprio ato de
conhecer. Pelo contrário, na Idade Média os estudantes eram orientados a
considerar importante todo o conhecimento científico, não
terem vergonha de aprender com qualquer um e não
desprezarem os outros depois de terem alcançado o saber. Assim,
trilharei um caminho de amor e bondade para tentar compreender
as categorias mentais dos medievais a respeito da Educação.
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Na Antigüidade Ocidental a Educação era
entendida como uma transmissão de técnicas adquiridas. O ato pedagógico tinha,
sobretudo, a finalidade de possibilitar o aperfeiçoamento dessas técnicas
através da iniciativa dos indivíduos (Luzuriaga, 1978: 57). A Pedagogia não
tinha a dignidade de ciência autônoma, sendo considerada parte da Ética ou
da Política, e, por isso, elaborada unicamente em vista do fim que
estas propunham ao homem. Os expedientes ou os meios pedagógicos só eram
estudados em relação à primeira educação ministrada na infância: ler, escrever
e contar (Manacorda, 1989: 85).
A reflexão pedagógica era dividida em dois ramos
isolados: um de natureza puramente filosófica, elaborado por conceitos éticos,
e outro de natureza empírica ou prática, visando preparar a criança para a
vida. O ato de educar era baseado no ser, utilizado para a formação e
amadurecimento do homem e a busca de sua consecução completa ou perfeita. Ele
era uma passagem gradual da potência ao ato, da infância até a fase adulta
(Abbagnano, 2000: 306).
No entanto, o status da criança no
mundo antigo era praticamente nulo. Sua existência dependia do poder do pai;
poderia ser rejeitada se fosse menina ou se nascesse com algum problema físico.
Seu destino, caso sobrevivesse, era abastecer os prostíbulos de Roma e o
sistema escravista (De Cassagne). Até o final da Antigüidade, boa
parte das crianças pobres eram abandonadas ou vendidas; as ricas
enjeitadas – por causa de disputas de herança – eram
entregues à própria sorte (Roussel, s/d: 363). Seria necessário a revolução
pedagógica levada a cabo pelo cristianismo para que a criança passasse
a ser valorizada como ser e recebesse uma orientação educacional direcionada e
de cunho ético-integral (Costa, 2002: 17-18).
A base do currículo educacional medieval foi dada
pela obra O casamento da Filologia e Mercúrio, do cartaginês
Marciano Capela, escrita por volta de 410-427. Nela, o autor, influenciado pela
enciclopédia de Varrão (Sobre as Nove Disciplinas), tratou das Sete
Artes Liberais, damas de honra daquele casamento: 1) Gramática, 2)
Retórica, 3) Dialética, 4) Aritmética, 5) Geometria, 6) Astronomia e 7)
Harmonia. Marciano Capela deixou de lado a Medicina e a Arquitetura, por
tratarem de coisas terrestres que “...não têm nada em comum com o céu.” (citado
em Nunes, 1979: 75).
Platão já havia mostrado a distinção entre o que se
chamou o Trivium (Gramática, Retórica e Dialética) e o Quadrivium (Aritmética,
Geometria, Astronomia e Música). Ao que tudo indica, Boécio (480-524) foi o
primeiro a chamar de Quadrivium as quatro disciplinas aqui
relacionadas; o termo Trivium só foi utilizado mais tarde
(Monroe, 1977: 113-114; Nunes, 1979: 78). As Artes Liberais eram denominadasartes pois
implicavam não somente o conhecimento, mas também uma produção que decorria
imediatamente da razão, como várias outras – por exemplo, o
Discurso e a Retórica, os Números e a Aritmética), as Melodias e a Música, etc.
(Le Goff, 1993: 57).
Assim, ao lado das sete Artes Liberais,
desenvolveu-se durante esse primeiro tempo medieval um novo o conceito de Educação.
Os pensadores de então acreditavam que as palavras (a linguagem) possuíam em si
a possibilidade de resgatar a experiência humana esquecida (Lauand, 1998: 106);
o próprio conceito significava literalmente a idéia: educação, educe,
“fazer sair”, “extrair”. Por exemplo, na Península Ibérica usava-se o
verbo nutrir: o mestre era o nutritor e o
estudante o nutritus. Aqueles homens entendiam a educação como um
ato saboroso para o intelecto – daí o significado etimológico
de sabor para a palavra saber (BRAVO, 2000:
304).
Para os educadores de então, o conhecimento já
existia inato no estudante. Restava saber de que modo o aluno seria conduzido
da ignorância ao saber. Cabia ao professor acender uma centelha na
criança, formá-la, não asfixiá-la (Price, 1996:
88). O estudo era utilizado principalmente para o desenvolvimento da vida do
espírito, para a elevação espiritual. Hoje isto se perdeu de uma tal forma que
uma das características marcantes da pedagogia moderna consiste no fato de ela
ter conseguido dissociar, cada vez mais profundamente ao longo dos últimos 700
anos, o estudo da busca de Deus, de valores éticos e morais, enfim, das
virtudes, causa primeira da profunda crise ética pela qual passamos nos dias de
hoje.
Até o aparecimento da literatura vernácula (séculos
XI e XII), os monges cristãos foram os responsáveis pela manutenção e produção
de praticamente todos os textos escritos. Eles preservaram a cultura antiga.
Graças a seu meticuloso trabalho realizado nos mosteiros, os monges copiaram os
escritos antigos, salvando-os assim das invasões bárbaras da Alta Idade Média
(Nunes, 1979: 80-83). Além disso, eles lideraram uma revolução cultural sem
precedentes: inventaram nossa caligrafia (minúscula carolíngia), o livro (folio)
e nossa forma de leitura (em silêncio), expandindo ao máximo a capacidade
cerebral de reflexão profunda (Parkes, 1998: 103-122; Hamesse, 1998: 123-146).
Feitas essas considerações preliminares sobre o
conceito de educação e a importância do período medieval para
a preservação do conhecimento antigo e suas importantes contribuições para a
linguagem, a divisão das artes e as novas formas de se pensar o conhecimento,
passamos agora aos filósofos escolhidos para mostrar ao leitor como o saber era
entendido, e de que forma o estudante poderia atingir a felicidade em suas
buscas íntimas com seu objeto de estudo.
al-Farabi
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Um dos grandes do pensamento muçulmano, al-Farabi
viveu entre 870 e 950. Nascido nas terras da Transoxiana (região da Ásia
Central, atual Usbequistão), ali provavelmente começou sua formação intelectual
com cristãos nestorianos – o nestorianismo rejeitou
a expressão “mãe de Deus” (theotokos) para designar Maria,
recomendando “mãe do Cristo” (Christotokos); seus adeptos fundarama
igreja sírio-nestoriana (ou caldeu-nestoriana) (Fröhlich, 1987: 39).
Além de escrever comentários sobre textos
aristotélicos, al-Farabi produziu notáveis e influentes obras, a maioria delas
dedicadas ao estudo das condições sociais e individuais em que o homem pode
alcançar a felicidade (Ramón Guerrero, 2002: 21).
Em seu texto O caminho da Felicidade (Kitab
al-tanbih 'alà sabil al-sa'ada), al-Farabi quer ensinar ao leitor a melhor
forma de se atingir a plenitude do belo: através do estudo, da reflexão.
Existem, diz ele, três caminhos para a felicidade: a ação (o
ato de ouvir, o de olhar, etc.), as afeições da alma (o
apetite, o prazer, o gozo, a ira, o medo, o desejo, etc.) e o
discernimento por meio da mente.
Para que esses caminhos sejam percorridos, é
necessário que o viajante tenha plena liberdade de escolha, o que ele chama
de livre-eleição (e o cristianismo chamou livre-arbítrio).
Além disso, devemos buscar, saber e praticar as virtudes, faculdades que são um
hábito da alma. Por esse motivo, o homem tem a mesma capacidade de fazer o feio
que fazer o belo (curiosamente, há pouco tempo, questionado em uma entrevista
sobre o atentado islâmico ao World Trade Center, o historiador Eric
Hobsbawn afirmou o mesmo).
De qualquer modo, devemos buscar
os hábitos belos. Segundo al-Farabi são:
1) Valentia
2) Generosidade
3) Moderação
4) Perspicácia
5) Sinceridade e
6) Afabilidade (al-Farabi, 2002: 48).
Os hábitos, para serem hábitos, devem ser
praticados. Por exemplo,
A arte de escrever só se consegue
quando o homem pratica de maneira usual a ação (...) A excelência da ação de
escrever procede do homem somente por destreza na escrita, e a destreza para
escrever só se adquire quando antes se acostuma o homem a uma excelente ação de
escrever (...) Esta excelente ação de escrever é possível ao homem (..) por
causa da faculdade que possui por natureza.
(al-Farabi, 2002: 52)
Assim, caro leitor, se deseja ser hábil em uma
arte, pratique-a! Se quer ser inteligente, estude, se quer escrever, escreva, e
assim por diante. Em outras palavras: aprenda fazendo, conselho
simples e óbvio conhecido pelos medievais, hoje abandonado por muitas
pedagogias ditas modernas.
Por oposição, os hábitos morais feios são
a enfermidade da alma, e o homem livre é aquele que consegue
discernir o que é dado pela reflexão. O homem é uma besta quando
não reflete e também não consegue decidir nada (al-Farabi, 2002: 62). Caro
leitor, não pense que estou colocando palavras em nosso autor. Veja por si
mesmo:
Alguns homens têm excelente reflexão e
poderosa decisão para fazer aquilo que a reflexão lhes impõe; são aqueles que
podemos merecidamente chamar de homens livres. Outros carecem de
ambas as coisas e são os que podemos merecidamente chamar homens
bestiais e servos.
Outros carecem somente de poderosa decisão, mas têm excelente reflexão: são
aqueles que podemos chamar servos por natureza. Isso acontece a
alguns que se arrogam a ciência ou se consideram filósofos, e então estão em
uma categoria abaixo do primeiro na servidão, e aquela ciência que se arrogam
se converte em ignomínia e desonra para eles, pois o que adquirem é algo
inútil, pois não obtêm proveito.
Por fim, outros carecem de excelente reflexão embora tenham poderosa
decisão; para quem é assim, outros refletem por ele; ou bem se deixará
levar por quem reflete por ele, ou não se deixará levar. Caso não se deixe
levar, também será uma besta, mas se se deixar levar, terá êxito em muitas de
suas ações e, por causa disso, poderá escapar da servidão e participar com os
livres.
(al-Farabi, 2002: 62-63 [os grifos são meus])
Essa bela passagem mostra um grande ensinamento que
distingue os pensadores medievais dos atuais pedagogos: a capacidade de julgar
é essencial ao sábio – e, lamentavelmente, quantas e quantas vezes
ouvi de professores – e depois colegas – que um bom
historiador não pode julgar, não tem esse direito...
Mais ainda: o que distingue o homem livre da besta
humana é sua capacidade reflexiva! Nessa verdadeira classificação
humana em quatro tipos, al-Farabi eleva as virtudes intelectuais ao grau do
excelente discernimento. Caso queiram aplicar a filosofia alfarabiana à
História ensinada em nossos dias, posso resumi-la em uma frase: o bom, o
verdadeiro historiador apreende o conteúdo histórico, reflete a seu respeito e
por fim emite um julgamento de valor. E somente esse último momento
intelectual é considerado por al-Farabi digno e capaz de distinguir o homem
livre da besta...
A finalidade desse discernimento
intelectual em al-Farabi sempre será a busca do belo, daquilo que
causa prazer e fruição ao espírito. Os fins também são três, como os caminhos:
o agradável, o útil e o belo, pois “...todas as artes buscam o belo ou o útil.”
(al-Farabi, 2002: 67)
Por fim, al-Farabi afirma que as artes necessárias
para se trilhar o caminho da felicidade também são três: Filosofia, Lógica e
Gramática. A Filosofia se divide em Teórica (Matemática, Física e Metafísica) e
Prática (Ética e Filosofia Política, ou “da cidade”). A Felicidade
Suprema é alcançar a Filosofia:
Como somente obtemos a felicidade
quando estamos de posse das coisas belas, e como só possuímos as coisas belas
por meio da arte da filosofia, necessariamente a filosofia é aquela pela qual
alcançamos a felicidade. Esta é a que adquirimos por meio da excelência do
discernimento.
(al-Farabi, 2002: 68)
Para se alcançar o discernimento é necessário que o
estudante aprenda a Lógica, arte que ensina a discernir o verdadeiro do falso.
Por sua vez, para ser lógico, o aluno deve aprender Gramática, “arte que trata
das classes das palavras significantes”; “ciência do falar correto
e a capacidade de falar corretamente de acordo com o costume dos que falam uma
determinada língua” (al-Farabi, 2002: 74 e 71). O caminho para a felicidade
passa, assim, pela Educação: Gramática, Lógica e Filosofia. Ser feliz é
aprender a ler, escrever, raciocinar e discernir os bons hábitos dos maus, pois
o bem supremo (= a beleza) é trilhar e chegar ao equilíbrio da razão. Só o
cultivo da virtude traz a felicidade ao homem (Ramón Guerrero, 2002: 38).
al-Farabi foi um dos responsáveis pelas teorias
mais originais entre os árabes. De natureza universalista, pois abrange desde
os filósofos antigos até os cristãos e ainda citando os pensadores que
imediatamente o antecederam (ATTIE FILHO, 2002: 198), al-Farabi representa a
síntese muçulmana da busca do conhecimento e o entendimento da harmonia do
universo para compreender as questões do homem e do homem no mundo. A busca
desses primeiros princípios era possível pela recordação do conhecimento inato
no homem. Como disse no início desse texto, ou melhor, como bem disse Jean
Lauand, os medievais entendiam a educação como um resgate do conhecimento da
experiência humana esquecida (Lauand, 1998).
Para isso, deveria-se começar pela Gramática, para
“saber as classes das palavras que significam as classes das noções
inteligíveis” (al-Farabi, 2002: 73-74). Como isso hoje está distante da atual
pedagogia: hoje há muitos que defendem a opacidade das palavras, o vazio e a
insignificância das formas; buscar a beleza, a elegância e a harmonia verbal e
o ritmo são coisas frívolas para os pós-modernos. Nada mais distante da
filosofia dos medievais. al-Farabi – e Ramon Llull, como veremos
adiante – buscaram a felicidade através da forma bela, da educação.
Passemos então a nosso outro filósofo, dando um salto de trezentos anos, mas
ainda unidos nessa perspectiva pedagógica integracionista e total. Isso,
naturalmente, sem perder a perspectiva religiosa. No final de seu tratado,
al-Farabi encerra: “Louvado seja somente Deus. Ele me basta.” (al-Farabi, 2002:
75).
Ramon Llull (1232-1316)
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Ramon Llull é um dos personagens medievais que está
sendo cada vez mais redescoberto, tanto por filólogos, como historiadores e
filósofos. Originário de Palma de Maiorca, Llull nasceu em 1232, isto é, pouco
depois que sua família se estabeleceu na ilha reconquistada por Jaime I. Sua
personalidade multifacetada e que alternava momentos de euforia com estados de
depressão profunda está bastante transparente nos temas e na perspectiva
adotada em suas obras (quase trezentas). Por exemplo, vejam sua tristeza
inconsolável neste belo trecho de seu poema Desconsolo (Desconhort):
Quando cresci e senti a vaidade do
mundo,
comecei a fazer mal e entrei em pecado,
esquecendo o Deus glorioso e seguindo o que é carnal. 15
Mas agradou a Jesus Cristo, por Sua grande piedade,
apresentar-se a mim cinco vezes crucificado,
para que O relembrasse e me enamorasse,
e fizesse que Ele fosse predicado
por todo o mundo, e que fosse dita a verdade 20
de Sua Trindade, e como encarnou.
Porque fui inspirado em tão grande vontade,
que nada amei mais do que Ele fosse honrado
e, então, comecei a servi-Lo de bom grado.
Quando me pus a considerar do mundo o seu estado, 25
quão poucos são os cristãos e como muitos Lhe descrêem,
então, em meu coração tive tal concepção
que fosse a prelados e a reis, igualmente,
e a religiosos, com tal ordenamento,
para que ocorresse a Passagem, e com tal pregação 30
que com ferro e fogo, e verdadeira argumentação,
se desse à nossa fé tão grande exaltação
que os infiéis viessem à conversão.
E isso tenho tratado, verdadeiramente, há trinta anos,
mas não obtive nada, pelo que estou doente, 35
tanto, que choro freqüentemente, e estou em languidez.
(Ramon Llull. Desconsolo, II-III. Trad.: Tatyana Nunes Lemos e Ricardo da Costa)
Ramon Llull é um dos escritores mais prolíficos da
Idade Média, talvez o maior polígrafo da História (FIDORA, 2003). Seus temas
variam desde Botânica, Filosofia e Teologia até Música, Astronomia e Política.
Da mesma forma, seu código ético, privilegiado em centenas de escritos
moralizantes, deixa claro que sua pedagogia está baseada, como em al-Farabi, em
uma ética e moral religiosas, onde a busca pelo conhecimento passa por sucessivos
degraus. Em suma, educar é um ato de elevação espiritual.
Em sua autobiografia, a Vida Coetânea,
Llull nos informa que não possuía saber suficiente, nem sequer Gramática, a não
ser uma pequena parte; ele define a Gramática como a arte de
...falar e escrever retamente. Por
isso, ela é eleita para ser linguagem comum às gentes, que pela distância das terras
e da comunicação possuem linguagens variadas.
Filho, se desejas aprender gramática convém saberes três coisas: construção,
declinação e vocábulos.
(Ramon Llull. Doutrina para crianças, LXXIII, 2-3
[trad. Ricardo da Costa e Grupo III de Pesquisas Medievais da Ufes]).
Da formação básica de Ramon Llull pouco sabemos. O
que se pode afirmar com relativa segurança é que ele aprendeu a falar
corretamente graças a uma cultura não clerical notavelmente
incrementada pela tradição dos relatos de cavalaria e, de forma mais próxima,
pela cultura dos trovadores, pois, como nos diz em sua autobiografia, ele era
afeito “na arte de trovar e compor canções e ditados das loucuras deste mundo”
(Ramon Llull, Vida Coetânia, I. 2).
Sua conversão ocorreu por volta de 1265, quando
tinha aproximadamente trinta anos de idade. Ela veio acompanhada de três
desejos: 1) converter os “infiéis” ao catolicismo, 2) criar escolas onde se
estudasse a língua dos infiéis e 3) preparar-se para o martírio. A partir de
então dedicou-se a essa evangelização, que acreditava ser possível
especialmente através do amor e do diálogo.
Nessa perspectiva apologética é que devemos tentar
compreender sua pedagogia. O tema da educação luliana pode ser
abordado especialmente através de um texto: a obra Doutrina para crianças. É uma das obras
mais acessíveis de sua produção, podendo ser usada inclusive como introdução ao
seu pensamento. Nela, o autor tenta colocar tudo que considerava importante
para a formação religiosa, moral e prática de seu filho. A grande novidade da Doutrina para crianças é ser uma
pequena enciclopédia pedagógica escrita em catalão, em uma época na qual o
latim era a única língua de ensinamento. Trata-se, portanto, de um documento
sobre o ensino primário do século XIII.
Llull explica carinhosamente a seu filho que ciência é
“saber o que existe”, um dos sete dons dados ao homem pelo Espírito Santo (os
outros são a Sabedoria, o Entendimento, o Conselho, a Fortaleza, a Piedade e o
Temor). Ele considerava sua ciência espiritual uma graça que
deveria ser cultivada e estar a serviço da fé, sendo muito mais nobre que
aquela que as crianças aprendiam na escola com o professor, pois daria
consciência aos pecadores dos pecados que cometiam e ensinaria as crianças a
distinguir o bem do mal, ou melhor, a amar o bem e a ter ódio do mal. Apesar
disso, aconselha seu filho a confiar na ciência que os mestres ensinam (Ramon
Llull, Doutrina para crianças, XXXIV, 3).
Em sintonia com al-Farabi e os de seu tempo, a
ciência e a pedagogia lulianas têm seu alicerce na consciência do bem e do mal.
Por esse motivo, elas já foram definidas como uma educação ética(Carreras
y Artau, 1939, vol. I: 610-612). Havia nessa pedagogia uma proposta intrínseca
bem de acordo com sua época: o objetivo primeiro de sua educação era o amor a
Deus, propósito que Llull definiu como Primeira Intenção:
Amável filho, a intenção é obra do
entendimento e da vontade que se movem para dar o cumprimento da coisa desejada
e entendida. E a intenção é um ato de um apetite natural que requer a perfeição
que lhe convém naturalmente.
Filho, essa intenção da qual tens necessidade é dividida em duas maneiras, isto
é, a primeira intenção e a segunda. A primeira é melhor e mais nobre que a
segunda porque é mais útil e mais necessária; a primeira é o princípio da
segunda, e a segunda é movida pela primeira (...)
Filho, a glória que terás no Paraíso, se nele entrares, será pela segunda
intenção, e o conhecimento e o amor que tiveres de Deus serão pela primeira,
pois melhor coisa é a intenção de conhecer e amar Deus que ter glória por
conhecê-Lo e amá-Lo, pois Deus é mais inteligível e amável que tua glória.
(Ramon Llull. O Livro da Intenção, 1, 2, 8 [trad. Ricardo da Costa e Grupo III de Pesquisas Medievais da Ufes])
Llull aconselha ao filho que ame a ciência pela
intenção que existe, e para que saiba “usá-la e obrá-la melhor e mais
lealmente, contrastando-a muito ao demônio” (Ramon Llull. O Livro da Intenção V.19, 6). As
crianças deveriam ser educadas desde muito cedo a amar, conhecer, honrar e
servir a Deus. Essa consciência moral, passada com um carinho e afeto
paternais, tinha como finalidade converter os infiéis, sobretudo muçulmanos e
judeus (Bonner, 1986: 38). Não se pode perder nunca de vista essa perspectiva:
seus textos tinham sempre esse propósito apologético.
Por sua vez, a aquisição do saber para Llull era
uma qualidade apropriada que deveria estar direcionada à qualidade
própria dos elementos, uma idéia já encontrada em uma enciclopédia
árabe do século X (Ikhwan Al-Safa) (Lohr, 1991: 08). Qual era essa
qualidade? Como Deus era pensado em termos ativos – a criação do
mundo não fora uma ação de Deus? – cada elemento possuía uma natureza
intrínseca e ativa de origem divina, isto é, que tinha uma relação direta com o
sagrado.
Assim, a qualidade de cada elemento se relacionava
com a de outro elemento. Por exemplo: o fogo é quente e seco, a água fria e
úmida, a terra fria e seca e o ar quente e úmido; os medievais acreditavam que
essas qualidades interagiam entre si: a umidade da água passava para o ar, que
com seu calor interagia com o fogo; o fogo ressecava a terra, que por fim,
resfriava a água (Costa, 2002). Veja como Llull transmite esse conhecimento a
seu filho:
Amável filho, quatro são os elementos:
fogo, ar, água e terra, e destes quatro é composto e unido o teu corpo e tudo o
que comes e bebes, apalpas, cheiras e sentes. Tudo o que teus olhos vêem sob a
lua pertence aos quatro elementos.
O fogo está sobre o ar, o ar está sobre a água, e a água está sobre a terra. O
fogo e o ar são leves, a água e a terra são pesados. Por isso, o fogo e o ar se
movem para cima e a água e a terra se movem para baixo.
Filho, a composição se faz de duas maneiras: uma é quando o fogo é seco pela
terra, o ar é aquecido pelo fogo, a água é umedecida pelo ar e a terra é
resfriada pela água. A outra maneira é quando todos os quatro elementos são
unidos em um corpo elementado, como o meu, o teu ou os outros corpos onde estão
unidos os quatro elementos.
Filho, através das quatro operações diversas, concordantes e contrárias ditas
acima, os elementos se ligam e se ajustam em um corpo e se dividem em outro. E
como cada elemento desejaria ser corpo simples por si mesmo, sabe quando pode
ter sua simplicidade por si mesmo e em si mesmo sem ter paixão pelos outros
elementos. Filho, por isso é significada a ressurreição e a glorificação do
corpo ressuscitado.
Filho, as complexões descem dos quatro elementos: cólera, sangue, fleuma e
melancolia. A cólera é quente e seca, e é do fogo; o sangue é quente e úmido, e
é do ar; a fleuma é fria e úmida, e é da água; a melancolia é fria e seca, e é
da terra.
Cada um desses elementos é julgado pelos médicos em quatro graus. Sabes por
quê? Porque algumas coisas são mais fortes em complexões que em outras e, por
isso, de acordo com os graus, são feitas concordâncias de uns elementos com
outros, para sanar as doenças.
(Ramon Llull, Doutrina para crianças, XCIV)
As ciências da Natureza e da Medicina são afins: os
quatro elementos (fogo, água, terra e ar), e os quatro humores do corpo (os
temperamentos bilioso, sangüíneo, linfático e melancólico) deveriam ser levados
em conta pelo médico, pois acreditava-se que a doença ocorria quando havia o
destempero corporal e o fim da “virtude moderada”. Daí a necessidade imperativa
da busca da virtude, pois virtude era harmonia – vimos que al-Farabi
afirma que o caminho da felicidade passa necessariamente pela moderação.
Este é um ponto muito importante: todo o sistema
educativo medieval era uma estrutura análoga à estrutura do universo.
Senão vejamos: educar era acender uma centelha no estudante, isto é, estimular
um fogo já existente dentro das crianças; essa centelha pueril deveria ser
estimulada a buscar as virtudes através do hábito de fazer coisas boas, através
do exemplo dado pelo mestre; o hábito da virtude levaria à moderação e, por sua
vez, a moderação equilibraria os temperos do homem. Estes temperos, regulados
de acordo com a posição dos astros, dos signos do Zodíaco e dos líquidos
corporais, traria, junto com o estudo da filosofia, a felicidade, fim supremo
desejado por todos.
Por esses motivos, Llull mostra ao filho a teia de
dependências que o homem tinha com toda a estrutura do universo:
Filho, saibas que o corpo humano é
composto dos quatro elementos (...) As compleições são quatro: cólera, sangue,
fleuma e melancolia.
A cólera é do fogo, o sangue do ar, a fleuma da água e a
melancolia da terra. A cólera é quente pelo fogo e seca pela terra.
O sangue é úmido pelo ar e quente pelo fogo.
A fleuma é fria pela água e úmida pelo ar.
A melancolia é seca pela terra e fria pela água.
Assim, como essas compleições são desordenadas, os médicos trabalham para que
possam ordená-las, pois o homem fica doente por causa do desordenamento delas.
Filho, existe em cada homem as quatro compleições ditas acima, mas cada homem é
sentenciado à uma compleição mais que à outra. Por isso, alguns homens são
coléricos, outros sangüíneos, outros fleumáticos e outros melancólicos.
(Ramon Llull. Doutrina para crianças, LXXVII, 4-6)
A medicina esta ligada à filosofia, portanto!
Esta teoria científica dos humores baseava-se em Hipócrates
(c.460-380 a.C.), mas principalmente em Galeno de Pérgamo (c. 129-179 d.C.),
médico e anatomista grego. Este fato mostra bem que, ao contrário do que
algumas vezes se afirma, os medievais não só conheciam os textos da Antigüidade
como davam até valor demais a eles, respeitando-os como autoridades (Price,
1996).
O mundo do ocidente medieval ainda recebeu o
reforço da medicina árabe, que também compartilhava a teoria de Galeno
(Micheau, 1985: 61-62). É por esse motivo que al-Farabi constantemente cita os
médicos como exemplos úteis na busca da felicidade (al-Farabi, 2002: 54 e 58).
O bem estar do corpo estava condicionado a esses quatro fluidos corporais. Os
humores e as constelações determinavam os graus de calor e umidade do corpo e a
proporção da masculinidade e feminilidade de cada pessoa. A felicidade
educacional passava então pelo corpo são, mas sobretudo, pela mente
sã – livre (al-Farabi) – e voltada para Deus (Ramon Llull).
Por fim, as artes mecânicas, também
eram um caminho para se obter a felicidade terrena. Llull assim as define:
A arte mecânica é ciência lucrativa
manual para dar sustentação à vida corporal. Filho, nessa ciência estão os
mestres, isto é, os lavradores, os ferreiros, os marceneiros, os sapateiros, os
alfaiates, os mercadores e os outros ofícios semelhantes a esses.
Amável filho, nesta ciência os homens trabalham corporalmente para que possam
viver, e uns mestres ajudam outros, e sem esses ofícios o mundo não seria
ordenado, nem burgueses, nem cavaleiros, nem príncipes e nem prelados poderiam
viver sem os homens que têm os ofícios citados acima.
(Ramon Llull. Doutrina para crianças, LXXIX, 1-2)
Llull aconselha a seu filho que aprenda algum
desses ofícios, pois pode precisar deles em algum momento de sua vida (LXXIX,
6). Ele tenta seguir o “exemplo dos sarracenos”. Os muçulmanos oferecem muitos
bons exemplos para Ramon Llull. Por exemplo, no Livro das Maravilhas (1288-1289)
ele comenta
A principal razão pela qual os cristãos
envelhecem e morrem antes dos sarracenos é porque o sarraceno usa mais coisas
doces, que são quentes e úmidas, que o cristão. E a água que ele bebe
multiplica a umidade, fazendo durar sua umidade radical. E o cristão que bebe
vinho, que é quente e seco, multiplica seu calor e consome sua umidade.
(Ramon Llull. Félix ou O Livro das Maravilhas, Livro VIII, cap. 50)
Na fisiologia medieval, a umidade
radical era o humor vital ao qual era atribuída a conservação
da vida animal (Domínguez Ortiz, 1962: 50). Comparativamente, enquanto o regime
alimentar cristão era baseado na trilogia clássica pão-carne-vinho, o dos
muçulmanos era rico em frutas doces, vegetais e vitaminas, como, aliás,
recomenda a medicina atual. Os cristãos medievais admitiam que muitos
muçulmanos viviam até oitenta ou cem anos, enquanto os cristãos sofriam de gota
e envelheciam prematuramente, vítimas de seus próprios excessos alimentares
(Flandrin e Montanari, 1998).
Do mesmo modo, Llull afirma que por mais rico que
seja um muçulmano, ele não deixa de ensinar a seu filho algum ofício manual
para que “se lhe falharem as riquezas, que ele possa viver do seu trabalho”
(Ramon Llull. Doutrina para crianças, LXXIX, 3). Por
outro lado, ele aproveita a descrição das Artes Mecânicas para
fazer uma dura crítica aos burgueses de seu tempo, preocupados apenas em
enriquecer (não confundir os modernos conceitos de burguês e burguesia – associados
sempre à tradição marxista – com o conceito medieval de
burguês, isto é, o morador do burgo, da cidade. Burguês é um dos piores
ofícios que existem: o burguês gasta, não ganha, é ocioso. O burguês
...gasta e não ganha, tem filhos e cada
um deles está ocioso e quer ser burguês, e a riqueza não é suficiente para
todos (...) Nenhum homem vive tão pouco quanto o burguês. Sabes por quê? Porque
come demais e suporta pouco o mal. E nenhum homem faz tanto dano aos seus
amigos quanto um burguês pobre, e em ninguém está tão ultrajada a pobreza como
está no burguês.
Nenhum homem tem tão pouco mérito de esmola, nem de fazer o bem quanto o
burguês. Sabes por quê? Porque não suporta o mal que dá. E como o homem foi
feito para trabalhar e suportar o mal, quem faz seu filho burguês atenta contra
isso pelo qual o homem foi feito. Por isso, esse ofício é mais punido por Nosso
Senhor Deus que qualquer outro.
(Ramon Llull. Doutrina para crianças, LXXIX, 9, 11-12)
Além dessa crítica ferina, Llull finaliza seu
capítulo sobre as sete Artes Liberais com a metáfora da Roda
da Fortuna, um tema muito querido pelos medievais e que mostra a intensa
mobilidade social da sociedade medieval – ressalte-se que a sociedade
medieval nunca foi um sistema de castas, tinha uma grande mobilidade e as
noções de hierarquia e ordem tinham como objetivo possibilitar
a fluidez das pessoas (Iogna-Prat, 2002: 313 e 318):
Filho, assim como a roda que se move
gira, os homens que estão nos ofícios ditos acima se movem. Logo, aqueles que
estão no mais baixo ofício em honramento desejam se elevar cada dia até chegarem
à cabeça da roda soberana, na qual estão os burgueses. E como a roda está
sempre a girar e a se inclinar para baixo, convém que o ofício de burguês
também caia.
(Ramon Llull. Doutrina para crianças, LXXIX, 10)
Os burgueses sempre querem mais; eles são a
antítese do mundo de Ramon Llull, daquele mundo medieval voltado para a
educação ética, de moral cristã. Os burgueses do tempo de Llull são, segundo
sua visão, os responsáveis pelo movimento da Roda da Fortuna (Costa e Zierer). Esta crítica ferina de Ramon
Llull aos burgueses mostra seu intento educacional: as Artes existem
para que o homem sempre lembre, desde muito cedo, através da Educação, que o
saber destina-se a fins mais elevados que o lucro e a avareza. Muitas vezes as
ciências são estudadas e praticadas por homens malvados porque “...o demônio se
esforça para destruir a intenção pela qual elas existem” (Ramon Llull. O Livro da Intenção, V.19, 6). Para o
maiorquino, a ciência e o estudo devem estar a serviço da contemplação divina.
*
Os dois autores medievais escolhidos para este
artigo ilustram maravilhosamente bem a forma e o conteúdo que a educação
medieval tomou, após séculos de reflexões feitas a partir dos textos clássicos,
que eles conheciam bem e que serviam de base para os estudos de diversas
disciplinas. A Idade Média não só desenvolveu um sistema próprio de pensamento
pedagógico, especialmente no campo da Ética, como também aprimorou
a divisão dos saberes herdada da Antigüidade, elevando, pela primeira vez,
as Artes Mecânicas - ainda hoje infelizmente consideradas como
um “trabalho menor” – ao nível das artes liberais, isto é,
intelectuais.
Ao buscar a fruição do belo, do bem, os
intelectuais medievais elaboraram um conjunto harmonioso e integrado de
educação voltada para a ascensão do espírito. O intelecto e a reflexão seriam,
a partir de então, cumes desejáveis – e possíveis de serem alcançados
por qualquer um, pois também foram lançadas as bases filosóficas do conceito
de igualdade. Afinal, o cristianismo não pregou sempre que somos
todos irmãos?
A sabedoria como caminho para a felicidade. Concluo esse texto retornando ao título e a
al-Farabi: caminhar em uma trilha mental imaginária em busca da felicidade era,
para os medievais, uma estrada de amor, esse sentimento tão difícil de ser
definido e ainda mais difícil de ser escolhido atualmente como objeto de estudo
histórico.
A felicidade é um fim que todo homem
deseja e que todo aquele que se dirige a ela com seu esforço tende a ela tanto
que é uma certa perfeição. Isso é algo que não necessita de palavras para ser
explicado, pois é sumamente conhecido (...) a felicidade é um dos bens
preferidos (al-Farabi, 2002: 43).
*
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introd. y notas de Rafael Ramón Guerrero). Madrid: Editorial Trotta, 2002.
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de Ricardo da Costa).
RAMON LLULL. Félix ou o Livro das Maravilhas (1288-1289).
RAMON LLULL. Doutrina para crianças (1274-1276).
RAMON LLULL. O Livro da Intenção (c. 1283).
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Tatyana Nunes Lemos e Ricardo da Costa).
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