Resenha: Avaliação Mediadora - Livro de Jussara Hoffmann



AVALIAÇÃO MEDIADORA

HOFFMANN, Jussara. Avaliação mediadora: uma prática em construção da pré-
escola à universidade. 35. ed. Porto Alegre; Editora Mediação, 2019.

Por Jonathan Thiago Legovski

Jussara Hoffmann, em sua obra, interroga-se sobre o real potencial da avaliação classificatória como meio de garantir o crescimento qualitativo do ensino, uma vez que há a crença, já popular, de que tão somente a nota é referencial seguro para mensurar a qualidade do aprendizado ou método aplicado em uma determinada atividade em sala de aula.

Segundo Hoffmann, o sistema de avaliação classificatória é não é capaz de apontar as falhas no processo de aprendizado dos alunos e nas práticas docentes. De tal modo, com o modelo tradicional, o estudante torna-se refém no sistema de avaliação classificatória quando se obriga a exclusivamente responder questões com respostas sempre sugeridas pelo professor e pelo livro didático, tendo em geral, a noção de que a resposta ideal é aquela que, ipsis litteris, traduz as expressões utilizadas pelo professor ou mesmo pelo livro didático adotado Os alunos que alcançam boas notas, em muitos casos, aprendem apenas para passar no exame, adotando práticas como memorização, obediência e passividade. O resultado deste ciclo, é o fato de que o aluno dificilmente alcançará o máximo de desenvolvimento possível que só seria atingido por meio da aprendizagem, compreensão, questionamento e participação.

Para que o fim último de um objetivo educacional seja alcançado, é necessário compreender que a relação entre professor e aluno, em sala de aula, deve ser dialógica e não de uma imposição de ideias. Aqui podemos perceber o conceito do docente enquanto  sujeito mediador do processo avaliativo, que auxiliará o discente a interpretar a escola como parte essencial de sua realidade.

Uma vez que o diagnóstico da atual conjuntura fora apresentado, a autora oferece ao leitor, uma alternativa à avaliação classificatória: a avaliação mediadora. Esta última, deve incentivar o professor a desenvolver um olhar atento, para que conhecendo seu aluno, possa buscar questões desafiadoras e capazes de garantir maior autonomia intelectual. Os discentes devem desfrutar de inúmeras oportunidades para exposição de suas ideias, de modo a criar um canal/vínculo para com o mediador (professor). A partir disso, é possível realizar os questionamentos: para que avaliar? O que avaliar? 
Considera-se que, ao avaliar o aluno, o professor avalia sua própria prática. Aqui, podemos dizer que
esta relação entre docente e discente, se estabelece como um primeiro princípio para repensar a forma de avaliar. É ainda oportuno ressaltar que a avaliação deve constituir prática contínua e não apenas do final de um período. Naturalmente exigirá esforços consideráveis, pelas quais o aluno possa se expressar de formas variadas, facilitando o ato de avaliação. Nesta direção, avaliar significa provocar para identificar as necessidades dos alunos e ir à busca de soluções para sanar essas necessidades.

A avaliação mediadora deve oportunizar o debate entre alunos a partir de situações cuja origem tenha sido a própria sala de aula. Nestas ocasiões, os alunos não estão submetidos a uma relação de hierarquia de modo que a proposta não envolve os habituais trabalhos em grupos que, muitas vezes, constituem uma verdadeira “colcha de retalhos”.  Antes, a expressão do grupo, com suas diferentes características, formará o perfil necessário para estabelecer critérios avaliativos justos e condizentes com a realidade em questão.

Por outro lado, a avaliação mediadora não considera apenas o “grupo”, mas também recorda a compreensão das características individuais. A diferença em relação ao modelo tradicional é que as atividades devem ser menores e sucessivas, promovendo a investigação teórica e o entendimento, por parte do professor, das respostas apresentadas pelos estudantes. Aqui, o erro não deve ser motivo de condenação, mas peça fundamental na busca por compreender determinado conceito e ou situação específica. Para que o ato de avaliar (e consequentemente, a ação docente em si) alcance méritos, faz-se necessário aprimorar as estratégias através da vivência de situações; inclusive, alguns erros podem ser descobertos e corrigidos pelos próprios alunos. Neste contexto, a autora ressalta que todo o processo envolve mútua participação, de modo que todos os participantes, inclusive os mediadores, se beneficiem das relações e dos aprendizados que delas surgem.

Em sua obra, Jussara Hoffmann ainda recordará que a prática da avaliação mediadora também consiste em transformar os registros das avaliações em anotações que permitam vislumbrar o perfil construído pelos alunos durante o processo de aprendizagem, possibilitando o uso de ações alternativas e mais eficazes para a superação das dificuldades de cada aluno. Em suma, o educador poderá se envolver mais e melhor com o discente, compreendê-lo melhor e escolher os caminhos mais adequados a serem percorridos para o aprendizado individual. Testemunhos de professores que adotaram a avaliação mediadora afirmam que ela melhora a relação professor-aluno e aumenta de fato o envolvimento dos estudantes nas tarefas escolares. 

Jussara Hoffmann, em suma, mostra a necessidade de transformação na forma que tradicionalmente se faz avaliação dos alunos em nosso país, convidando as escolas a repensarem seus valores avaliativos para instigar e desenvolver seus alunos para uma sociedade culturalmente rica e produtiva.

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