A PAIXÃO DE CONHECER O MUNDO
FREIRE, Madalena. A paixão de conhecer o mundo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1999.
O livro “A paixão de
conhecer o mundo”, de Madalena Freire – cuja obra pretendemos sintetizar neste
escrito – é certamente fascinante, ao passo que também se torna um convidativo
guia para análise, ou mesmo aplicação ressignificada.
A obra é composta pelos
registros de Madalena Freire, feitos no início de sua atividade docente, divididos
em relatórios específicos e temporalmente situados, bem como pelos anexos que
mostram o desenvolvimento das atividades realizadas pelos grupos com os quais ela
trabalhou, considerando seu processo de alfabetização e construção de
conhecimento. Tal material aponta para o método aplicado em sua ação
pedagógica, no qual ela busca constantemente destacar as características
próprias da faixa etária que está acompanhando. Madalena assume, em sua prática
docente, o papel de uma mediadora tomada pelo ardente desejo de suprir tanto
quanto possível, as necessidades daqueles que lhes foram confiados, estimulando
sua curiosidade e o convívio coletivo e fraterno.
Neste aspecto, a sala que
acolhe o grupo de crianças é um espaço de partida para desenvolver um estrito
relacionamento entre professor e aluno, visando novos saberes, conforme sugerem
Jan W. Valle e David J. Conoor[1] (2014, p. 102):
A construção do relacionamento com os alunos se
desenrola ao longo do tempo. Contudo, quando eles reconhecem que o professor
prepara as aulas levando em consideração, de modo respeitoso, os níveis
individuais de conhecimento, os gostos, os interesses, as capacidades e as carências,
para proporcionar uma aula interessante, envolvente e desafiadora, que ajude-os
a progredir, então um senso de respeito mútuo se desenvolve.
Dito
isto, o leitor atento poderá perguntar-se: como é possível desenvolver tamanhas
qualidades com um determinado grupo de idade simular ou mesmo diferenciada?
Madalena Freire apresenta
de modo concreto, a resposta para esta interrogação ao longo de sua obra, elencando
pontos chaves de seu método, que aliados com as intervenções pedagógicas,
formam um itinerário, desde a chegada/acolhida até a despedida de um dia em
sala, a saber:
·
Momentos de conversas coletivas, onde cada
um poderá expressar sua opinião sobre um determinado tema, ou mesmo
compartilhar alguma novidade. Este momento possibilita conhecer os interesses
das crianças para então organizar atividades que sejam significativas e
realizadas em grupo. Fora deste momento que se originou, exempli gratia,
o trabalho de pesquisa corporal com um pintinho que posteriormente culminou na
“visita” da galinha Genoveva.
·
O momento do lanche é concebido como a
atividade agradável e de partilha, onde é possível se descontrair.
·
O uso do parque não como um tempo ocioso, mas
intencional, onde uma variedade de interesses pode despertar graças ao auxílio
do professor.
·
Os espaços referenciais e organizacionais
da sala, como o Atelier, espaço destinado para a subjetividade, onde
cada pode desenvolver suas atividades ou realizar pesquisas segundo seus
interesses; há ainda o espaço denominado Museu, onde se arquivam toda
sorte de material que pode ser empenhado nas atividades propostas. Fora nestes
espaços de referência que surgiram acaloradas conversas e aprendizagens sobre o
desenvolvimento de uma borboleta; sobre o funcionamento do sistema solar; sobre
a formação de um vulcão, bem como diálogos formativos sobre questões acerca da
sexualidade e reprodução humana.
A obra de Freire é ainda recheada de experiências
práticas, como a visita ao Instituto Butantã e posterior dissecação de uma
cobra, bem como a visita na casa da Emili, onde puderam construir uma cadeira
de madeira. Outras ações ainda poderiam ser citadas, como a abordagem enérgica,
e ao mesmo educativa, mediante a ofensa que alguns alunos realizam contra uma
pessoa negra.
Por fim, consideramos que a obra aqui analisada,
destaca-se no cenário acadêmico por sua relevância teórica em comunhão com
ações práticas concretas que servem de estímulo e aprimoramento para qualquer professor
inquieto que frequentemente almeja repensar e refletir sobre sua prática
docente.
[1] VALLE, Jan W.; CONOOR,
David J. Ressignificando a deficiência: da abordagem
social às práticas inclusivas na escola. Porto Alegre: Penso, 2014. 240 p.
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