Por Jonathan Thiago Legovski
“A estória conta que um circo ambulante na Dinamarca pegou fogo. O diretor manda à aldeia vizinha o palhaço, já caracterizado para a representação, em busca de auxílio, tanto mais que havia perigo de alastrarem-se as chamas através dos campos secos, alcançando a própria aldeia.
O clown corre à aldeia e
suplica aos moradores que venham com urgência ajudar a apagar as chamas do
circo incendiado. Mas os habitantes tomam os gritos do palhaço por um
formidável truque de publicidade para aliciá-los ao espetáculo; aplaudem-no e
riem a bandeiras despregadas.
O palhaço sente mais
vontade de chorar do que de rir. Debalde tenta conjurar os homens e
esclarecer-lhes de que não se trata de propaganda alguma, nem de fingimento ou
truque, mas de coisa muito séria, porquanto o circo realmente está a arder em
chamas.
Seu esforço apenas
aumenta a hilaridade até que, por fim, o fogo alcança a aldeia, tornando
excessivamente tardia qualquer tentativa de auxílio; circo e aldeia tornam-se
presa das chamas.”
- Conto de
Kierkergaard
O conto acima exposto,
certamente desconhecido aos ouvidos de muitos leitores, nos permite colher uma
preciosa lição quando o tema é a objetividade das palavras.
Por vezes, ao longo de
nossa formação, nossos professores nos guiaram – e sem má intenção, tenho dito!
– para a noção de que um bom texto é aquele que possui ricos elementos
estéticos, ou dito de um outro modo, “floreado”. Isto me parece um engano.
Explico.
Se todos acreditássemos
que a finalidade de um texto é sua beleza estética e não sua capacidade de
expressar uma ideia, teríamos um grande problema. Não se trata de condenar
estes mesmos elementos textuais estéticos. Ao contrário! Reconhecemos a
importância dos mesmos em função de uma escrita/leitura prazerosa. Antes, o ponto
central é a compreensão de que estes elementos devem ser apoios para que o
escritor consiga traduzir com clareza – e objetividade, ainda que de modo belo –
a essência fundamental daquilo que se prepõe a dizer.
Não podemos cair no erro
do clown que se utilizou de meios inadequados para expressar a gravidade do
momento. Devemos lutar de modo constante para que, ampliando os
limites de nosso vocabulário, consigamos encontrar as palavras corretas para serem
empregadas no momento certo – e isto requer esforço e dedicação.
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